quinta-feira, 12 de junho de 2025

Entre o toque e a palavra 12 de junho

 


Entre o toque e a palavra

Nem todo toque precisa de mãos.

Nem todo desejo começa no corpo.

Às vezes, é no silêncio entre duas frases, no olhar que se demora meio segundo a mais, na respiração que falha quando a presença do outro invade tudo.

Era isso que acontecia entre eles.

Não era só beijo. Era prece.

Não era só pele. Era premonição.

Como se seus corpos já soubessem o caminho mesmo antes do toque.

Ele não a tocava de imediato. Observava.

Como quem decifra um poema com os olhos.

Como quem escuta antes de tocar a melodia.

Ela fechava os olhos, mas sentia.

A energia dele roçava nela sem encostar.

Era calor que começava devagar, no centro do peito, e escorria em forma de suspiro entre os seios, por dentro das coxas, até o ventre pulsar por algo que ainda não tinha nome — só urgência.


— Você sente isso também? — ela sussurrou, quando ele se aproximou o suficiente para ouvir sem palavras.


Ele não respondeu.

Apenas encostou a testa na dela, e naquele gesto, tudo foi dito.

Era dia dos namorados.

Mas ali não cabia clichê, nem presente embrulhado com laço.

O que existia entre eles era entrega. Era carne viva.

Era o tipo de amor que arde — e cura ao mesmo tempo.

Porque tem toque que começa antes do toque.

Tem desejo que reconhece o seu nome na pele do outro.

E tem pessoas que são descanso, mesmo quando deixam a gente em chamas.

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