Entre o toque e a palavra
Nem todo toque precisa de mãos.
Nem todo desejo começa no corpo.
Às vezes, é no silêncio entre duas frases, no olhar que se demora meio segundo a mais, na respiração que falha quando a presença do outro invade tudo.
Era isso que acontecia entre eles.
Não era só beijo. Era prece.
Não era só pele. Era premonição.
Como se seus corpos já soubessem o caminho mesmo antes do toque.
Ele não a tocava de imediato. Observava.
Como quem decifra um poema com os olhos.
Como quem escuta antes de tocar a melodia.
Ela fechava os olhos, mas sentia.
A energia dele roçava nela sem encostar.
Era calor que começava devagar, no centro do peito, e escorria em forma de suspiro entre os seios, por dentro das coxas, até o ventre pulsar por algo que ainda não tinha nome — só urgência.
— Você sente isso também? — ela sussurrou, quando ele se aproximou o suficiente para ouvir sem palavras.
Ele não respondeu.
Apenas encostou a testa na dela, e naquele gesto, tudo foi dito.
Era dia dos namorados.
Mas ali não cabia clichê, nem presente embrulhado com laço.
O que existia entre eles era entrega. Era carne viva.
Era o tipo de amor que arde — e cura ao mesmo tempo.
Porque tem toque que começa antes do toque.
Tem desejo que reconhece o seu nome na pele do outro.
E tem pessoas que são descanso, mesmo quando deixam a gente em chamas.
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