quinta-feira, 29 de maio de 2025

Me lê como quem sabe onde tocar.

 

Me lê como quem sabe onde tocar.

Ele a observava como quem decifrava um livro escrito à mão: com tempo, cuidado… e certa fome disfarçada.

Ela notou.
E provocou.

— Tá me lendo por quê?

Ele não hesitou.

— Porque quem sabe onde tocar, começa com os olhos.

Ela sorriu, lenta.
Como quem sabia que palavras certas acendem lugares errados.

Ele virou a página sem pressa, querendo explorar cada entrelinha.
Ela era cheia de margens rabiscadas, parágrafos intensos e silêncios que gritavam.
Um texto com cheiro, gosto e pele.
Impossível de resumir.

E ali, naquela troca de olhares, o entendimento foi mútuo:
Algumas pessoas não se leem.
Se sentem.
Página por página, toque por toque.

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