Me lê como quem sabe onde tocar.
Ele a observava como quem decifrava um livro escrito à mão: com tempo, cuidado… e certa fome disfarçada.
Ela notou.
E provocou.
— Tá me lendo por quê?
Ele não hesitou.
— Porque quem sabe onde tocar, começa com os olhos.
Ela sorriu, lenta.
Como quem sabia que palavras certas acendem lugares errados.
Ele virou a página sem pressa, querendo explorar cada entrelinha.
Ela era cheia de margens rabiscadas, parágrafos intensos e silêncios que gritavam.
Um texto com cheiro, gosto e pele.
Impossível de resumir.
E ali, naquela troca de olhares, o entendimento foi mútuo:
Algumas pessoas não se leem.
Se sentem.
Página por página, toque por toque.
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