Algumas histórias são passageiras. Aquelas que se folheiam sem atenção, que se devoram rápido e logo se perdem na memória. Mas ela não era assim. Não era um conto raso para ser lido às pressas.
Ele percebeu no jeito que ela falava—pausadamente, como se cada palavra tivesse gosto. No olhar que sustentava o silêncio, como quem sabia que algumas entrelinhas valiam mais do que qualquer frase dita em voz alta.
— E você? Que tipo de história é? — ele perguntou, a voz baixa, rouca de curiosidade.
Ela inclinou a cabeça levemente, deixando a ponta dos dedos traçar um círculo na borda da taça antes de encará-lo com um sorriso lento.
— Daquelas que marcam. Que deixam frases sublinhadas na pele. Mas só pra quem sabe ler devagar...
O ar entre os dois ficou mais denso, carregado de possibilidades. Ele segurou o olhar dela por um instante, a tensão crescendo entre um piscar e outro. Depois, como quem aceita um enigma sedutor, se inclinou um pouco mais perto, deixando a voz deslizar pelo espaço entre eles.
— Eu tenho todo o tempo do mundo.
E, pela primeira vez naquela noite, ela soube que seria lida exatamente como queria: sem pressa, linha por linha, até que cada palavra se tornasse inesquecível.
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