Te olho e já imagino o que não posso escrever aqui.
— Em que tá pensando? — ele perguntou com um sorriso torto, curioso com o silêncio dela.
Ela não respondeu de imediato. Apenas o encarou com um olhar que passeava, sem pudores, por cada detalhe do rosto dele. Pela curva da boca, pelo pescoço exposto, pelo jeito como os dedos tamborilavam impacientes sobre a mesa.
Depois, inclinou-se ligeiramente e sussurrou, com a voz baixa o suficiente pra provocar:
— Te olho e já imagino o que não posso escrever aqui.
Ele engoliu seco.
Porque ela não precisava descrever nada. O jeito como mordia o canto do lábio já dizia mais do que qualquer parágrafo ousado. O silêncio dela era uma narrativa inteira — feita de intenções não ditas e vontades ainda sem roteiro.
E ele entendeu: algumas histórias não são pra serem lidas. São pra serem sentidas. E ela... ela sabia exatamente como começar uma.
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